quinta-feira, 27 de maio de 2010

História Oral resgata lenda da região Centro-Serra

Entre os anos de 1835 e 1845, período em que se passou a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, na localidade de Campo de Sobradinho, interior de Sobradinho – atualmente Passa Sete –, na região Centro-Serra, viveu uma negra chamada Guilhermina. Ela era parteira, curandeira e uma espécie de ajudante em muitas casas da redondeza. Adorada pelos vizinhos, era uma senhora bem conhecida em vários municípios. Tinha um rancho, residência de chão batido sem qualquer luxo. Era uma mulher muito simples.

A bondade extrema, porém, lhe custou a própria vida. Reza a lenda que ela abrigou três jovens em sua casa durante certo tempo. Os três rapazes possivelmente eram desertores, pois fugiam da guerra. Não queriam lutar, porque acreditavam ser muito novos. Guilhermina os acolheu até o dia em que o trio desapareceu misteriosamente. Pouco depois, a idosa foi encontrada morta. Havia sido enforcada.

Os amigos realizaram um funeral e construíram um túmulo para Guilhermina. Os moradores de Campo de Sobradinho e arredores, com o tempo, começaram a visitar o local onde o corpo da descendente de escravos foi enterrado. Levavam presentes e faziam pedidos de curas. Muitos dizem que ela era santa. E a fama se espalhou por toda a região.

Esquecida por longo tempo, a lenda foi recuperada quando o professor Derli Régis Carniel, que na época cursava pós-graduação em folclore na Faculdade Palestrina, de Porto Alegre, deu início à investigação inicial da história. Influenciado por mestres como Paixão Cortes e Antônio Augusto Fagundes, ele foi a campo e percorreu toda a região em busca dos relatos de quem conheceu ou ouviu falar sobre Guilhermina, hoje conhecida como Nega da noite.



HISTÓRIA ORAL

Como a idosa não tinha certidão de nascimento nem qualquer outro registro documental, a pesquisa se baseou no método de história oral. “Foi muito difícil. Mas hoje posso dizer que me sinto satisfeito com o resultado”, diz o professor. Tratava-se de uma mulher sozinha, sem qualquer vínculo, protagonista de amores ocultos, que vagava à noite totalmente só. “Era muito benquista por todo mundo. Certamente por isso acolheu os três jovens. Estimo que, por vingança, após terem sequestrado os rapazes, mataram-na com requintes de crueldade”, avalia Carniel.

Após a conclusão da pesquisa, Carniel apresentou o trabalho. O tradicionalista Antônio Fagundes o publicou de imediato, de forma resumida, no livro Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul.

Notícia disponível em: http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=131978&intIdEdicao=2088

Um comentário:

  1. Gostaria de ter acesso a lenda completa, não apenas o resumo.. como encontro?

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